Por Moisés Weber, CEO da Plastiweber
Na indústria de embalagens, temos testemunhado o fenômeno do “paperization”, em que a substituição do plástico pelo papel ganha mais força a cada dia. Surgem, em toda parte, ações de “cancelamento” do plástico, como se o material devesse ser abandonado após ter sido utilizado com grande sucesso em inúmeras aplicações ao longo das últimas décadas, trazendo diversos avanços e ganhos.
É uma história que se repete. Quem for um pouco mais velho, talvez se lembrará do momento em que o papel foi vilanizado por “provocar o desmatamento florestal”, o que só foi esclarecido com conhecimento e comunicação adequados. Aparentemente, agora elegeu-se um novo mártir, em outra campanha de informações imprecisas, que podem resultar em prejuízos à sociedade e ao meio ambiente. Precisamos tratar o tema de maneira séria e com embasamento técnico.
Antes de tudo, o plástico tem um número de ciclos de reciclagem muito superior ao papel. A produção de papel polui 70% mais o ar e 50% mais a água. Quando se recicla o plástico, gasta-se 98% menos energia em comparação à mesma quantidade de papel e o gasto de água também é muito menor.
Outro ponto fundamental é a logística. Uma caixa de papelão, quando comparada a um fardo plástico, possui volume e peso, em média, 20 vezes superiores. Com isso, gera um impacto logístico muito maior, tanto na entrega da embalagem quanto na distribuição dos produtos embalados, resultando em mais emissões de gases do efeito estufa e todos os impactos decorrentes do volume maior que é transportado.
No que diz respeito ao custo financeiro, a produção da embalagem de papel é muito mais cara do que a da embalagem feita com plástico reciclado. Estima-se que seja, pelo menos, duas vezes mais cara que uma embalagem premium feita de plástico reciclado pós-consumo.
A troca não representa apenas um atraso ambiental e econômico. Em todo o Brasil, muitas famílias se sustentam ou complementam a renda de suas casas a partir do recolhimento de resíduos nas ruas. Se compararmos os dois materiais, o papel tem um valor seis vezes menor do que o plástico para os catadores. Atualmente, a maior renda das cooperativas é proveniente da venda do plástico, mesmo que, no peso, o papelão seja bastante superior, o que reitera a atratividade da reciclagem do plástico.
Ainda que óbvio, não se pode deixar de citar o princípio fundamental das embalagens, que é a capacidade de proteção. A embalagem de papel não oferece a mesma impermeabilidade e resistência que uma produzida a partir de plástico reciclado. Há uma diferença substancial entre a capacidade de proteger o produto de cada uma delas. Proteger, prolongar o tempo de vida e reduzir o desperdício são fundamentais para o meio ambiente e para sociedade.
Quando analisamos essas comparações, nos perguntamos o porquê de tamanho avanço do “paperization”. São alguns motivos. Entre eles, a pressão do consumidor, que, sem o conhecimento técnico, não sabe que o papel pode ser mais nocivo para o meio ambiente que o plástico reciclado. A legislação é pouco favorável para quem busca trabalhar de forma consciente com o material plástico. E, claro, há uma notada escassez de opções de embalagens de plástico reciclado confiáveis e de qualidade.
O plástico pode ter um impacto gigantesco e inaceitável quando vai parar no meio ambiente. A fim de usufruirmos de todos os seus benefícios, devemos produzir plástico reciclado a partir de práticas circulares, material inigualável em seus atributos. É o momento de irmos além do senso comum. Deixemos que o papel exerça sua função, mas a embalagem plástica reciclada e circular é uma solução ambiental, econômica e social insubstituível naquilo que cumpre há muito tempo.
Plástico, quando reciclado, é solução. O grande vilão do setor é a falta de informação.