Artigo escrito por André Castro, consultor do Sinplast-RS e CEO da Après21
No Rio Grande do Sul, e também para aqueles solidários que se envolvem na reconstrução do Estado após as históricas inundações de Maio/2024, aprendemos a analisar indicadores de níveis de rios e afluentes, conhecer índices pluviométricos, falamos menos em operação de fábricas e mais em bombas de água em funcionamento, entre tantos outros aprendizados que fomos empurrados a absorver na esteira da tragédia que assolou a região.
Para quem tem origem na indústria petroquímica e plásticos, o período é desafiador, não só por ampliar nossas análises na busca das respostas às questões globais, mas também por mergulhar no particular evento ocorrido no Rio Grande do Sul e seus impactos adjacentes.
Começando pelo panorama global, os ajustes/otimizações de plantas petroquímicas, crackers e refinarias já estão a ocorrer. O fechamento de plantas é uma medida drástica, usada quando as margens operam tão baixas quanto nos últimos meses. Essa é uma resposta à fraca demanda, que por si mesma, é uma consequência da reposição de estoques feita até a metade de 2022, com projeção de recuperação pós-pandemia que não se confirmou. E soma-se a isso adições de capacidade amplamente conhecidas entre 2022 e 2024. Observa-se que oferta e demanda crescem em 2024, mas limitados pelas agendas de descarbonização e eficiência energética. A tendência é que o uso de refinados aumente com melhora na demanda de gasolina e produtos químicos, acelerando a base do preço destes derivados, fazendo com que a nafta volte a operar com uma paridade histórica frente ao barril de petróleo, pois hoje ela opera descontada.
Os produtos base gás estão sob pressão agora, perdendo competitividade, mas sua matriz ainda é de baixo custo. Players mais competitivos devem seguir sendo América do Norte e Middle East em etileno. Em propeno e polipropileno a dinâmica é diferente e as adições ainda em 2024, China à frente, mantêm mercado sobre ofertado. Entretanto, os níveis atuais de custos não devem permitir correções tão abaixo dos níveis atuais. Também em PVC vemos uma melhora no consumo para o segundo semestre a nível global, absorvendo uma parcela das capacidades, ainda que gradualmente.
O repertório de respostas às baixas nas margens e resultados, como preservação do caixa, menores estoques, melhorias operacionais/otimizações, adiamento de investimentos, excelência em suprimentos, e até a IA cujos estudos revelam que pode proporcionar ganhos na faixa de 3% na média dos melhores projetos. Fusões e aquisições passaram a segundo plano com fluxos financeiros limitados pela taxa de juros, focando em atividades ligadas à sustentabilidade.
Os últimos indicadores da Europa trazem um leve crescimento, a notar pela baixa das taxas de juros do Banco Central Europeu. O índice de pay roll - EUA continua com resultados altos, limitando a redução na taxa de juros do FED americano, e indicando que a economia está forte, apoiada na drive-season e ano de eleições, o crescimento econômico será protagonista. Na Ásia, a China cresce lentamente, com muitos estímulos à produção e exportação, e na Índia a renovada gestão do atual governo recém-reeleito traz ares de impulso à produção e consumo das famílias.
No meio de tudo isso, sem ser repetitivo quanto ao estresse dos conflitos geopolíticos globais, nos encontramos neste solo de recuperação de uma devastação sem precedentes, lembrando que o Rio Grande do Sul contribui com quase 10% do consumo brasileiro de resinas e com 8% do PIB nacional. O impulso deve começar pelo reconhecimento das variáveis externas. Neste contexto, a reestruturação do mercado passa pelo uso do plástico em muitos dos aspectos da reconstrução, por isso a recuperação dos ativos, da infraestrutura e do consumo, iniciando pelo varejo, deve representar uma demanda de produtos concentrada, que enfrentará um cenário de alta de preços, com base no panorama externo, composto de altos custos logísticos, taxa de dólar em elevação e, pela indicação das variáveis, preços em elevação.