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Por que a comunicação é importante no processo de sucessão familiar empresarial?

14 de junho de 2024
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No Brasil, 90% das empresas têm perfil familiar, segundo dados do IBGE. Juntas, respondem por mais da metade do PIB e empregam cerca de 75% da mão de obra do país. Contudo, somente 30% das empresas familiares chegam à 3ª geração e o pior: apenas 15%, ultrapassam esse patamar. Quais os principais obstáculos à longevidade das empresas familiares? Problemas como falhas na governança, falta de alinhamento estratégico, ausência de planejamento sucessório, liderança não qualificada, disputas por poder e liquidez são exemplos recorrentes, mas será que a coisa para por aí?

Era uma vez, uma tarde de confraternização no jardim da empresa, sorrisos e brindes, conversas animadas e críticas veladas. No centro das atenções estava o patriarca e fundador do grupo empresarial, cuja presença imponente irradiava a aura de quem havia dedicado uma vida aos negócios, que agora dava frutos para todos os presentes naquela festa. Sempre que tinham oportunidade, os dois sócios minoritários, agora aposentados e fazendo apenas parte do conselho, juntavam-se ao patriarca, ora para relembrarem os velhos tempos, ora para saírem nas fotos oficiais do evento, uma forma de sentirem que ainda estavam ao lado do poder. 

Os filhos, primos e demais membros da família aguardavam ansiosamente o pronunciamento que poderia mudar o futuro da empresa. Os mais jovens vislumbravam um caminho para os negócios baseado em inovação tecnológica e sustentabilidade. Por outro lado, o patriarca, seguro em sua redoma de crenças e tradições, resistia às mudanças, enxergando-as como ameaças ao modelo de negócio consolidado ao longo dos anos. A esposa do patriarca tinha suas convicções, talvez até tivesse ideia do melhor caminho para a sucessão, mas sempre guardava para si suas percepções, muitas vezes com o intuito de não contrariar o marido.

A cena descrita acima não apenas retrata um possível conflito geracional, mas também evidencia que não houve uma estratégia de comunicação entre os detentores do poder decisório e as próximas gerações que irão um dia assumir os negócios. Compreender as nuances desse processo transcende a mera gestão técnica e requer uma estratégia de mediação de conflitos, visando conciliar interesses diversos e preservar a integridade dos negócios. É preciso entender que esse conglomerado empresarial, erguido com esforço impensável, dedicação e coração, representa mais que um negócio, sendo uma espécie de extensão da identidade do patriarca. 

Os sábios ensinaram que a paz verdadeira não é apenas a ausência de guerra, mas um estado de harmonia em que todas as partes se sentem ouvidas, respeitadas e representadas. No Brasil, ainda é comum vermos patriarcas que distribuem cargos aos familiares e agregados, porém mantendo a centralização decisória, frustrando as expectativas dos mais jovens e perpetuando a crença de que apenas o fundador é capaz de conduzir o negócio. Esse desalinhamento de expectativas em relação ao momento ideal para a sucessão é uma fonte de tensão constante. Nesse ambiente carregado de emoções e expectativas, a comunicação emerge como uma peça-chave para desatar os nós que se formaram entre as gerações. De forma complementar, a capacidade de escuta para um diálogo empático e transparente poderá abrir as percepções e contribuir para um alinhamento mais saudável ao propósito dos negócios. 

A sucessão é mais que a passagem de bastão, é um processo que desperta emoções diversas, como medo, ansiedade, insegurança, raiva, rancor e por aí vai. As questões emocionais entre sucedidos e sucessores, aliadas às pressões do ambiente empresarial, podem complicar o processo. A trilha deve ser trabalhada com esmero para preservar os negócios e a saúde mental dos envolvidos. O equilíbrio entre aspectos técnicos e socioemocionais é fundamental no ambiente de sucessão familiar. Além de sua importância no processo sucessório, a comunicação deve ser parte integrante de todos os aspectos da estratégia empresarial. Trata-se de uma ponte que liga o passado e futuro, garantindo que as decisões possam ser tomadas de forma consciente e alinhada aos valores que sempre nortearam a empresa.  

A jornada da sucessão empresarial familiar, quando executada de forma planejada, representa muito mais que a transferência de poder, caracteriza o fortalecimento de um legado, onde a comunicação, amparada por diálogo e escuta, supera as barreiras geracionais e aponta no horizonte do desenvolvimento sustentável dos negócios como a causa a ser trabalhada. A implementação de mecanismos de governança pode assegurar que cada decisão respeite os valores e a cultura estabelecidos ao longo dos anos. No ambiente familiar, outro legado se traduzirá pela preservação da paz, saúde mental, qualidade de vida e harmonia entre seus membros. Dessa forma, certamente a energia da família será canalizada para apoiar e orientar os próximos passos que o negócio deverá trilhar.

Marcio Freitas – Jornalista, relações públicas, escritor e sócio fundador da Lex´up Comunicação, Governança e ESG. 

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